domingo, julho 15, 2012

"A desilusão é considerada um mal. Que preconceito irreflectido. Através do quê, senão através da desilusão, poderíamos descobrir o que esperamos e o que desejamos? E onde encontrar um momento de autoconhecimento, senão precisamente nessa descoberta? E se as coisas se processam assim, então como é que poderíamos adquirir clareza sobre nós próprios sem a desilusão?
Não devíamos suportar a desilusão com suspiros de desânimo, como algo sem o qual a nossa vida seria melhor. Devíamos procurá-la, persegui-la, coleccioná-la. [...]
Alguém apostado em conhecer-se verdadeiramente teria de ser um coleccionador obcecado e fanático de desilusões, e a procura de experiências decepcionantes deveria ser para ele como um vício, na verdade como o vício dominante da sua vida, pois então ele compreenderia, com grande clareza, que a desilusão não é afinal o veneno ardente e destruidor por que é tomada, mas um bálsamo fresco e tranquilizante que nos abre os olhos para os verdadeiros contornos do nosso eu mais íntimo."

in Comboio Nocturno para Lisboa, by Pascal Mercier

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