Como esta história dos blogs está na moda, resolvi tentar fazer o meu próprio blog. O único problema era o tema... de que raio é que eu havia de falar no blog? Pensei, e pensei, e pensei... e depois de tanto pensar, a única ideia que surgiu foi... nada...
domingo, outubro 15, 2006
Pensamento da Semana
Monotonizar a existência, para que ela não seja monótona.
Tornar anódino o quotidiano, para que a mais pequena coisa seja uma distracção.
No meio do meu trabalho de todos os dias, baço, igual e inútil, surgem-me visões de fuga, vestígios sonhados de ilhas longínquas, festas em áleas de parques de outras eras, outras paisagens, outros sentimentos, outro eu.
Mas reconheço, entre dois lançamentos, que se tivesse tudo isso, nada disso seria meu.
Mais vale, na verdade, o patrão Vasques que os Reis do Sonho; mais vale, na verdade, o escritório da Rua dos Douradores do que as grandes áleas dos parques impossíveis.
Tendo o patrão Vasques, posso gozar a visão interior das paisagens que não existem.
Mas se tivesse os Reis do Sonho, que me ficaria para sonhar?
Se tivesse as paisagens impossíveis, que me restaria de possível ? (...)
Posso imaginar-me tudo, porque não sou nada.
Se fosse alguma coisa, não poderia imaginar.
O ajudante de guarda-livros pode sonhar-se imperador romano; o Rei de Inglaterra não o pode fazer, porque o Rei de Inglaterra está privado de o ser, em sonhos, outro rei que não o rei que é.
A sua realidade não o deixa sentir.
Fernando Pessoa, in 'Livro do Desassossego'
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